Definição

          Uretrotomia é a incisão na uretra. Uretrostomia é a criação de uma fístula permanente na uretra.

Considerações gerais:

          Em cães, os cálculos são mais freqüentes na região do arco isquiático ou imediatamente caudal ao osso peniano.

         A antibioticoterapia pré-operatória deve ser instituída em animais com obstrução ou extravasamento de urina porque a infecção retarda a cicatrização e pode causar estenose. Animais com cálculos uretrais ou vesicais deveriam ser tratados com antibióticos baseados na cultura bacteriana.

         Uretrotomia

         É realizada em cães machos para remover cálculos uretrais que não são expelidos tampouco podem ser removidos com retrohidropropulsão (injeção de solução fisiológica em uma sonda uretral, na tentativa de empurrar os cálculos uretrais para o interior da bexiga). Este procedimento, na maioria das vezes, é realizado na região pré-escrotal, mas pode ser feito na região perineal.

         Técnica cirúrgica:

         – posicionar o paciente em decúbito dorsal;

         – passar uma sonda uretral estéril em direção ao escroto; demarcar o local a ser incisado (referência pala obstrução);

         – separar o músculo retrator do pênis deslocando-o lateralmente para expor a porção peniana da uretra;

         – fixar o pênis com uma das mãos e realizar uma incisão na linha média da uretra, sobre o cálculo, com uma lâmina de bisturi nº.11 ou 15;

         – mediante sangramento profuso, faça hemostasia compressiva;

         – remover o cálculo;

         – passar uma sonde uretral através do orifício criado, em direção à ponta do pênis e em direção à vesícula urinária.

         – suturar a uretra com fio absorvível sintético monofilamentar, 4-0 ou 5-0, em padrão simples interrompido.

         – suturar a pele com pontos intradérmicos (fio absorvível sintético 4-0) ou simples interrompido (fio inabsorvível sintético, 4-0 ou 3-0).

         – remover a sonda uretral.

  Pode-se, alternativamente, deixar a uretra cicatrizar por segunda intenção, isto é, não suturá-la. A cicatrização dá-se de maneira similar. Entretanto, tem-se observado maior incidência de hemorragia pós-operatória quando a uretrotomia não é suturada. O fechamento por primeira intenção é preferido quando a mucosa está sadia e se consegue adequada aposição das bordas da mucosa.

         A hemorragia é a complicação mais comum após a uretrotomia. A estenose uretral é outra complicação, e pode estar associada ao trauma decorrente do cálculo uretral mais do que da manipulação cirúrgica.

         Uretrostomia

         A indicação primária para este procedimento é o dano permanente da uretra distal. A uretrostomia pode ser realizada em cães que formam cronicamente cálculos. Obstruções uretrais repetidas consistem na indicação primária para uretrostomia perineal em gatos. Em cães, a uretrostomia pode ser realizada em quatro locais: pré-escrotal, escrotal, perineal e pré-púbica. Embora seja um procedimento tecnicamente mais elaborado que a uretrotomia, a uretrostomia traz menores riscos de estenose pós-operatória.

     A localização escrotal é preferida porque a uretra localiza-se superficialmente e é relativamente larga e a hemorragia neste local é geralmente menor que nas demais localizações. Uretrostomia na região perineal em cães resulta no extravasamento de urina nos membros pélvicos. Uretrostomia em gatos pode ser realizada na região perineal ou pré-púbica; em fêmeas (cadelas ou gatas) é limitada à região pré-púbica.

         Uretrostomia escrotal: é a criação de uma abertura permanente na área do escroto. Ela requer a orquidectomia bilateral e a ressecção do escroto. Antes de se iniciar a cirurgia deve-se tentar irrigar a uretra sobre pressão empurrando os urólitos para a bexiga. Se esta tentativa obtiver êxito, os urólitos devem ser removidos através da cistotomia.

         Técnica cirúrgica:

         – posicionar o paciente em decúbito dorsal;

         – realizar uma incisão elíptica na base do escroto, no ponto onde a pele do escroto junta-se à pele normal na área inguinal;

         – divulsionar a gordura subcutânea com uma tesoura Metzembaum;

         – atingir o septo escrotal e separá-lo do lado ventral do pênis;

         – expor e elevar os testículos e cordões espermáticos;

         – realizar orquidectomia bilateral abrindo a túnica vaginal;

         – dissecar a gordura e o tecido fibroso que envolve o pênis até a visualização do músculo retrator do pênis seja visível;

         – separar o músculo retrator do pênis deslocando-o lateralmente para expor a porção peniana da uretra;

         – fixar o pênis com uma das mãos e seccionar o corpo esponjoso da uretra com uma lâmina de bisturi nº.11;

         – ampliar a incisão na uretra com pequena tesoura (de íris, por ex.). A incisão deve ter ao menos dois centímetros em cães pequenos, e ser maior em cães grandes;

         – sutura-se o tecido subcutâneo da pele à túnica albugínea do pênis, com pontos simples separados, fio absorvível sintético 3-0 ou 4-0;

         – suture a mucosa uretral na pele com pontos simples separados, fio

         absorvível sintético 4-0 (inicie com quatro pontos cardeais para reduzir a tensão).

         A túnica albugínea é incluída na sutura para produzir ligeira compressão do corpo cavernoso, ajudando na hemostasia. Os pontos devem ser eqüidistantes e os nós feitos sobre a pele, e não sobre a mucosa. A incisão remanescente na pele deve ser suturada com pontos simples interrompidos.

Pós-operatório (uretrotomia/ uretrostomia):

         Manter a antibioticoterapia preconizada e realizar analgesia pós-operatória. A hemorragia pós-operatória do orifício pode ocorrer por período superior a duas semanas, mas não é séria. O repouso evita a excitação que pode provocar hemorragia do corpo cavernoso. O colar elisabetano é opcional.

         Uretrostomia escrotal: A) ablação do escroto, cordões espermáticos ligados, localização do músculo retrator do pênis. B) incisão no lúmen uretral sobre o cateter. C) sutura da mucosa uretral à pele, pontos simples interrompidos.

 

ACESSE TAMBÉM:

TÉCNICA CIRÚRGICA – PAULA DINIZ